segunda-feira, 29 de junho de 2015

Teologia do corpo


A doutrina cristã sempre valorizou o corpo humano por entender que ele é bom. Desde os primeiros séculos, os doutores da Igreja tiveram de combater a doutrina maniqueísta, que considerava a existência de dois deuses: um do bem e outro do mal, sendo que tudo que era material era entendido como obra do deus mau. Dessa forma, o corpo, por ser matéria, era desprezado.


Entretanto, a fé cristã sempre viu no corpo uma bela obra de Deus. O homem é uma unidade de corpo e alma. O corpo é tão importante que, no mistério da Encarnação do Verbo Divino, o Filho de Deus assumiu a nossa carne. Por isso, a Igreja entende a grandeza do corpo humano e a necessidade de valorizá-lo e protegê-lo desde a gestação materna. É através do nosso corpo que nos relacionamos como os outros, com a natureza e com o cosmos. Ele não é apenas uma máquina fria sem expressão.
Na pessoa humana o corpo é um reflexo da vida interior, tanto que expressa o cansaço do espírito, a depressão da alma ou a alegria de viver. Para o cristão, matéria e espírito são duas dimensões do ser. O homem todo é obra boa de Deus, é um ser racional que deve valorizar todas as atividades: físicas, racionais, psicológicas e espirituais.
Também a Bíblia ressalta a grandeza do nosso corpo. São Paulo fala do cristão como o “templo vivo da Santíssima Trindade”. Jesus disse aos apóstolos que “se alguém me ama, meu Pai o amará, viremos a ele e faremos nele nossa morada” (João 14,23). E é por isso que o apóstolo dos gentios é tão severo ao advertir os coríntios sobre a necessidade de se manter a pureza do corpo. “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o espírito de Deus habita em vós?” (I Cor 3,16).
Esses ensinamentos fazem com que o cristão saiba usar o seu corpo com dignidade, sobretudo, na vida sexual, expressão maior do amor conjugal. Por isso, o sexo não é vivido nem antes nem fora do casamento. Quando Deus une o casal para sempre – como uma só carne – este se torna um compromisso de vida na dor e alegria. Fora do casamento, toda relação sexual se torna vazia, porque perde o sentido unitivo e procriativo. Pela relação amorosa dos seus corpos, homem e mulher celebram a “liturgia conjugal” e são capazes de dar vida a um novo ser que, como eles, é imagem de Deus.
Por outro lado, o corpo não pode ter uma primazia sobre o espírito. Na Antiguidade, se valorizava somente o espírito, desprezando-se o corpo. Hoje, corremos o risco de ver o contrário acontecer. Há pessoas que se tornaram escravas do corpo. O consumismo as convenceu de que o mais importante é ser bonito fisicamente, esbelto, magro. Muitas pessoas são convencidas de que, se não estiverem de acordo com esses padrões, não serão felizes. Entretanto, Deus seria injusto se fizesse com que a felicidade dependesse da cor da pele, do biótipo do corpo, da ondulação do cabelo. O corpo não é um fim em si mesmo, mas um meio para nos expressarmos. Michel Quoist dizia ao jovem que, para ser belo, é melhor parar “cinco minutos diante do espelho, dez diante de si mesmo e quinze diante de Deus”. Se considerarmos esse princípio, estaremos dando a justa medida às coisas e, por consequência, trilhando o caminho da verdadeira felicidade.
Prof. Felipe Aquino

sábado, 27 de junho de 2015

"Por favor, cativa-me!"

"...Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços".
- Criar laços?
Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto
inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não
tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil
outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para
mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves
esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa..."
(O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint Exupéry)

          À luz deste diálogo, te convido a pensarmos um pouco mais sobre as relações. Nesse sentido é praticamente impossível não fazer uma relação do pedido feito pela raposa:"Por favor, cativa-me!", com o que vemos manifesto em nossas ações, falas, expressões e atitudes e de boa parte das pessoas com as quais convivemos. É como se o amor gritasse, mesmo sufocado por tantas outras coisas num constante e diverso grito de "SOCORRO".  
Cativar... realmente uma coisa esquecida atualmente, uma palavra que praticamente caiu em desuso. Nesses tempos em que "ter" vale mais que "ser", temos nos empenhado em conquistar, obter, pela simples necessidade de "ter que ter". Esquecemos das pequenas conquistas, dos detalhes que cativam, que não somente criam laços, mas os tornam consistentes. Um olhar, um sorriso, uma palavra, o silêncio de uma escuta sincera, a preocupação e o cuidado despretensiosos, são as alegrias de "ter por ser".
  
   O hedonismo disseminado em nossa sociedade contradiz a construção de relacionamentos (independente do tipo) confiáveis e duradouros, pois a busca pela obtenção de prazer como último fim beneficia apenas um lado, transformando os relacionamentos em "negociações físicas e emocionais", onde um lado sempre vai sair em desvantagem. O outro passa a ser objeto de interesse, que perde sua utilidade tão logo apareça outro "objeto mais interessante" e a partir desta lógica vamos construindo relações fadadas à ruína.
Cativar é dar vez ao milagre do outro em nossa história e confiar ao outro o nosso "sagrado", o que temos de melhor e pior, é uma via de reciprocidade e obviamente não acontece num piscar de olhos; demanda tempo, trabalho, esforço, sinceridade, abnegação, entre tantas outras coisas. Sem dúvidas é algo imprescindível para o amadurecimento pessoal e fortalecimento das relações como um todo. Reclamamos da superficialidade das pessoas e das relações, mas até que ponto estamos dispostos a cativar e nos deixar cativar, até onde queremos nos responsabilizar?

   "... Tu te tornas ETERNAMENTE RESPONSÁVEL por aquilo que cativas", uma consequência um tanto quanto pesada, uma responsabilidade imputada àqueles que se dispõe a cativar e/ou se deixam cativar.
Como ser eternamente responsável se não somos eternos? 
A lição da raposa é proporcionalmente linda, simples e sutil!
Vivendo sinceramente a experiência de cativar, o sentimento de responsabilidade para com o outro surge naturalmente, reflexo de um ato de amor, de um "querer bem", de uma atenção recíproca e o ETERNO, por sua vez, não se dá pelo tempo que ficamos próximos, mas pelo significado que atribuímos, pela verdade que expressamos e pela coragem de cativar continuamente.

Higor Pontes

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Amor: investimento a longo prazo.


Ah, o amor!
Desejado, buscado, ilustrado, encenado, em forma de poesia... em todo canto há amor!
Há mesmo?
O tal do amor é algo que nos move, nos coloca em movimento. Estamos em constante busca, vamos atrás dos mais variados tipos de amor, amor de mãe, de pai, de amigos... e o tal amor da vida! A metade da laranja, a cara metade, o príncipe encantado, qualquer que seja a expressão usada, ela mostra que somos sedentos por algo que nos preencha.

Esse texto é pra você que está nessa busca, para te ajudar a pensar como você vive esse momento. Para te contar como é árduo esse caminho, pra te dizer que é subida de morro! Mas também, pra te dizer, que lá de cima, a vista do por do sol é mais bonita.

Procurar um amor não é simples. Talvez seja para quem não sabe o que procura, pra quem somente espera chegar. Quem investe nessa aventura, descobre que o amor não é lucro de retorno imediato, é investimento a longo prazo. Não cede à tentação de procurar saídas fáceis ou atalhos na vida.

Amar exige coragem. Encontrar o amor da vida quer dizer encontrar alguém para viver a tua velhice. Hoje teu companheiro de jantares românticos e de fotos na Pedra do Arpoador postadas no Instagram, amanhã quem apenas dormirá ao teu lado numa velha cama e achará lindo os teus cabelos brancos e rugas que não agregam likes nas redes.

Por isso, saiba investir. Comprometer-se a amar alguém por longo prazo é uma aposta alta. Amor é um processo e não um simples substantivo. Deveria sempre ser utilizado na forma verbal, ou seja, amar, pois é ação, movimento, envolvimento. Um padre me ensinou certa vez que amar é morrer para que o outro viva. É morrer nas minhas vontades. É esvaziar-se de si para doar a outrem. É ceder. É dar espaço ao outro. É ir na contra mão do egoísmo que vivemos. É cuidar. É fazer o outro feliz, e ser feliz pelo sorriso dele. Parece absurdo? Parece louco me doar a alguém? Me anular? Onde já se viu isso? Eu te digo...

Quem não conhece o Amor Maior não é capaz de amar verdadeiramente. Não é capaz de levar o amor as últimas consequências. Eu compreendi o amor ao olhar para a cruz, quando vi que Ele, senhor do mundo, criador de céus e terra, entregou seu Filho para me salvar. Esse é o exemplo que tenho de amor. E você?

Mas para ser capaz de amar, eu preciso investir. Investir antes em mim. Antes de me por a buscar, eu preciso, como bom acionista fazer cálculos, consultar especialistas. Investir em ações não é um jogo de azar, requer envolvimento, experiência, estudo, ousadia e um pouquinho de sorte. É necessário que nesse tempo onde Deus ainda não te enviou um par, que você se ponha a crescer, se ponha num tempo de esperas frutífero, invista em se conhecer, a saber o que procura. Aqui não há sorte, há oração. Aqui há abandono a vontade do Pai. Deposite seus sonhos em quem realmente pode realizá-los. Viva a castidade, compreenda a beleza de vivê-la. Prepare teu coração para que não se entregue a qualquer migalha de amor. Guarda-te para o amor que te conduzirá ao céu. Espere por aquele que zelará pelo teu templo. Aguarde aquela que te ajudará a viver um namoro santo.

Tendo teus pés firmes em Deus, quando o amor chegar, você saberá, como bom investidor que o amor atual ainda estará em alta daqui a 20 ou 30 anos quando vocês se tornarem pessoas diferentes...

Amar, além de ser um sentimento, é uma construção, é investimento contínuo.  Dia a dia, hora a hora acreditando que vai dar certo e trabalhando para adaptá-lo, reorientá-lo e transformá-lo naquilo que os dois conseguirem fazer juntos, com  defeitos e qualidades, ganhos e perdas, mas uma relação única, singular. Dois amantes que se transformam também em sócios, parceiros e cúmplices, e apostam todas suas fichas no desafio de viver um namoro que se torne sacramento tão breve.

‘Mantém o teu coração firme e sê constante (…), e não te afobes no tempo da contrariedade. Suporta as demoras de Deus, agarra-te a Ele e não o largues, para que sejas sábio em teus caminhos. Tudo o que acontecer, aceita-o, e sê constante na dor; na tua humilhação tem paciência, pois é no fogo que o ouro e a prata são provados e, no cadinho da humilhação, os que são agradáveis a Deus’
(Eclo 2, 1-6)

Eis o segredo da perseverança e da vivência das demoras de Deus: permanecer firme e constante na oração, estar agarrado a Deus! Esse é o segredo! Para que saibas investir. Para que entenda que é a longo prazo.

Que a gente não canse, ou se cansar, encontre forças para continuar, restaure as forças.

Que a gente não desista antes de ver o sonho de Deus se realizar.

Que a gente tenha paciência nessa espera.

Que a gente aprenda a torna frutífero esse tempo de investimento.

Que em breve, você encontre alguém para partilhar da beleza de um amor casto.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

“A voz que fala ao coração”




            
               Mediante a correria do dia a dia, nossas obrigações nos sufocam e quase não sobra tempo para nada, essa desculpa é sempre usada, aliás, nós, cristãos, de forma geral somos bons em arrumadores de  desculpas.
            Muitos se queixam de nunca terem ouvido a tão falada voz de Deus. Aliás, o desejo de ter uma voz que oriente e aponte quais direções devem ser tomadas em nossas vidas é um fator quase unânime na sociedade moderna, onde está deturpado o sentido de certo e errado. Quando alguém fala que escutou a voz do Senhor, chega ser motivo de espanto para os demais, na maioria das vezes, essas queixas sempre partem após algum momento turbulento, infelizmente muitos só param para procurar esse Deus em momentos delicados ou em momento de desespero e sempre surge a frase:
– Deus não fala comigo, nunca escutei a sua voz...
          A verdade é: Ele sempre nos fala, só que não somos capazes de perceber a sua voz que fala ao nosso coração[1], sempre o nosso dia está repleto de outras vozes. Vozes, estas, que muitas vezes nos levam a caminhos distantes com atrações que nos desligam do verdadeiro sentido da vida, o amor. A sociedade não tem mais tempo de parar para escutar a voz de Deus, muitos reclamam da ausência dessa voz, mas a maioria tem escutado a primeira voz que sussurra ao pé do ouvido em vez de escutar a voz que fala ao nosso coração, voz essa que nos fala o tempo todo, mas que raramente percebemos.
          O nosso coração humano sempre deseja escutar coisas que agradam as nossas vontades e que despertam os nossos desejos, mas nem sempre é assim, escutar essa voz é aceitá-la como o melhor caminho, mesmo quando o meu desejo é totalmente ao contrário, bem como escreve São João da Cruz “Nega os teus desejos e encontrarás o que deseja teu coração.”
“Eis que Iahweh nosso Deus nos mostrou sua glória e sua grandeza, e nós ouvimos a sua voz do meio do fogo. Hoje vimos que Deus pode falar ao homem, sem que este deixe de viver...” (Deuteronômio Capítulo 5, versículo 24).
Gabriel Sader dos Santos  




[1] Música  (A voz) do álbum Mais , OS ARRAIS 


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Exortar pelo exemplo






         Devido aos malefícios aos que a humanidade vem sendo exposta, atualmente, é necessário que tenhamos cuidado. É necessário que zelemos pelo outro, sobretudo os que precisam de nós, afinal, a vida é um ciclo e também, certamente, precisamos de alguém. Cuidar de um amigo, de um namorado, de uma noiva, de um colega de trabalho ou de qualquer outro ser humano vai muito além de compartilhar momentos agradáveis. Assistir a filmes, rir, conversar e brincar, sem dúvida, são prazeres saudáveis que fazem parte de nossa existência e precisam acontecer para que não caiamos na tristeza de uma vida sem amigos. Contudo, depois que a noite cai, depois que o riso se desfaz e que chegam as inquietudes da alma, um amigo de verdade é algo de que mais se precisa. Como ajudar? Exortações? Conselhos? Testemunhos? São de extrema relevância, mas caem por terra quando não há o exemplo.      Ser exemplo. Oferecer exemplo. Quase sempre, um exemplo é mais eficaz que palavras. Gestos ficam, parece que a memória os grava.   
         Mães, pais, professores, mestres, líderes. Eis as figuras que se destacam quando o assunto é exemplo. Lidam com crianças, com discípulos, com seguidores, com aqueles que por eles cultivam respeito. Um respeito não-hierárquico, um respeito que surge diante da necessidade de aprender a lidar com esse infinito e lindo percurso, chamado vida.   
         Jesus Cristo foi e sempre será o maior exemplo vivo que já pisou sobre a Terra. Passou e deixou marcas de luta, de HUMILDADE, AMOR, respeito, deixou para nós milhares de ensinamentos, todos advindos da perfeição de seus atos EXEMPLARES. Estamos muito aquém de sua perfeição, mas que isso não seja empecilho para que deixemos de tentar e buscar nos melhorar a cada dia, pelo contrário, que saibamos seguir seus exemplos de amor, para aprendermos a zelar melhor pelo outro, seja o outro quem for. Num mundo no qual o que prevalece é a tendência ao individualismo, que possamos buscar enriquecer o nosso coração com o Primeiro Dom, com o amor, oferecendo e recebendo exemplos todo o tempo. Somos feitos mais de atos que de palavras, portanto, façamos para nós aquilo que queremos que alguém faça, aquilo que, outrora, aprendemos com um outro alguém.       
         Exemplo. Substantivo simples, comum e que deveria ultrapassar os critérios da concretude. Através do exemplo, essa palavrinha que utilizamos com tanta freqüência no cotidiano, é possível que mudanças aconteçam, é possível que chegue um bem aonde precise chegar. 

sábado, 20 de junho de 2015

Um amor que protege...


     Retomando a ideia do corpo com templo do Espírito Santo, te convido a pensar conosco o quanto esta ideia e a vivência da mesma podem ser determinantes na construção de relações saudáveis ao longo de nossa história. No momento em que nos apropriamos deste Santo Espírito que habita em nós, ou seja, quando assumimos as consequencias de viver de acordo com a vontade de Deus para nós, a nossa forma de ver as coisas que nos rodeiam muda, de forma que certas coisas que antes não faziam sentido, passam a fazê-lo, o que também acontece no sentido contrário.
     O que é válido perceber a priori, é que não estou falando de coisas mágicas, que acontecem instantaneamente, mas de um processo, uma caminhada, onde um passo após o outro vamos nos movendo, nos distanciando de alguns conceitos, práticas e caminhando em direção a outros. O que começa a fazer a diferença e o que vai nortear esta caminhada é a forma como se vê e a disposição em lutar pelo Espírito Santo, do qual você é templo!
     A lógica da sociedade contemporânea é a agilidade, a rapidez. Informações em tempo real, o mundo que se aproxima num clique, fast foods, a tecnologia diminuindo distâncias, etc., tudo isso é muito bom e útil, de forma que já não conseguimos pensar nossa vida sem tais avanços. Mas o outro lado desta "moeda" é que em meio a tanta velocidade e agitação, acabamos por perder nossas referências, a noção de quem somos essencialmente. Construímos perfis, publicamos imagens que dizemos ser nossas, mas se pudéssemos fotografar quem somos de fato, seriamos capazes de nos reconhecermos numa foto?
     Pensar-nos como templos do Espírito Santo significa que, em última análise, cotidianamente nos relacionamos com o "sagrado" que também habita no outro. Imagine-se responsável pela guarda de um tesouro precioso, uma grande responsabilidade, não acha? Pois este é o nosso grande desafio e responsabilidade nos dias atuais, ao passo que o próprio Espírito nos capacita, basta-nos deixá-lo agir em nós.
     A partir do momento em que nos reconhecemos e nos apropriamos de quem somos, temos a condição de reconhecer o outro e o seu lugar em nossa vida, bem como a condição de zelar por ele e glorificar a Deus não apenas em nossos corpos, mas também em nossas relações. Não quero com isso restringir à relações de namoro, noivado ou casamento, mas digo sobre as relações em geral. Glorificar a Deus em nossas relações é zelar pelo outro e pelo que há de sagrado nele. É cuidar, proteger, ouvir, acolher, relembrar a todo momento que somos receptáculos de uma graça maior, de um dom que nos faz pessoas novas a cada dia.
     Zelar pelo outro, independente do lugar que ele ocupe em nossa vida, é cuidar de forma desinteressada, é uma experiência abnegada de amor, que fortalece a certeza de que há um amor maior em nós, que anseia se expandir, tomar todas as nossas possibilidades de ação e reação. Portanto, amemo-nos e deixemo-nos amar através do zelo para com o próximo, certos de que também desta forma estamos glorificando a Deus com nosso corpo.

Higor Pontes

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A pornografia me ensinou a amar


Parece estranho, mas sim: a pornografia ensinou-me e tem ensinado muitos jovens a amar. Com ela aprendi a amar o corpo, a amar consumir o corpo. Aprendi a amar meus desejos e amar satisfazê-los, seja como for. Aprendi a amar a mim, meu umbigo e meu pênis. Aprendi.

Aprendi também que o sexo em nada tem haver com amor. Que bom mesmo seria rolar algo tipo: 
  - Oi gata, vim entregar uma pizza.
  - Hum que bom, estava com fome.
   - Vamos transar? - Vamos!
E pronto, a mágica estava feita. Sem apego, sem sentimento, sem envolvimento e melhor: sem ter que se doar, afinal eu quero o meu prazer.

É assim que nossa juventude tem aprendido a amar. Seja na pornografia explícita em sites ou filmes, ou na implícita em cada cena de novela. E cada dia mais normal. Mais usual. A pornografia virou proposta pedagógica de alguns pais para ensinar sexualidade a seus filhos. E assim vamos vivendo e amadurecendo. Somos levados a crer que as relações duradouras são as que tem boa cama, e que o amor é expresso em quantas vezes atingimos o clímax sexual. A pornografia me ensinou o que é amor. Amor de aluguel. Amor de papel. Amor de... bem, isso é qualquer coisa, menos amor.

Quando me deparei com o que estávamos nos deparando e como somos condicionados, me vi cercado: por um lado o mundo sexualizado e de outro a pornografia ensinando a amar. Não é preciso muito pra ver que esses lados se aproximavam como paredes daquelas armadilhas de filme americano. E sabemos bem o que acontece com quem fica no meio delas.

Foi aí que o preguinho salvador que calçava um dos lados e o impedia de prosseguir com o iminente esmagamento foi a pureza. Ao me deparar com a beleza que ela trás e com o escudo que ela se torna, vi que havia uma esperança, que havia um caminho.

A pureza pode estar bem demodê para alguns, mas para os que entendem sua beleza é como dar a sua noiva um belo anel de diamantes ao pedi-la em casamento: clássico e lindo! É ela, e somente ela, quem pode nos apontar o caminho para o amor. Ela não é a bruxa má que proíbe tudo, ou a madrasta que impede a felicidade instantânea. Ela é o lenhador, que no último instante nos retira das entranhas do devorador. É ela quem guarda o amor do egoísmo, do vontadísmo e todas as outras doenças sexuais corruptíveis.

Ao conhecer a pureza conheci os olhos da minha namorada, o sorriso e seu jeito de falar. Seu jeito de dançar quando come algo gostoso e as expressões céticas a cada caso médico mal explicado em testemunhos por aí. Na pureza eu conheci seus sonhos de ter filhos e perceber que não é tempo de treinar fazê-los, é tempo de treinar-nos para ser bons pais, e isso passa longe da cama. Ao entender a pureza e sua função de protetora, pude olhar com outros olhos para a mais bela criação de Deus: a mulher. Poder ver em cada rosto belo e corpo desenhado a mão de Deus e a beleza contida antes n'Ele. Contemplar a dignidade de filha e querer engrandecer o nome do Criador por tamanha beleza. E mais que isso, entender que essa beleza foi feita para ser zelada, cuidada, guardada e não consumida. Eu devo ser aquele que protege e não aquele que destrói.

Sendo assim, somos levados a entender que a pornografia nos ensinou a amar a nós e a pureza pode nos levar a amar o outro. A pornografia nos leva a consumir e pureza a guardar. A pornografia nos faz querer se engalfinhar e a pureza a se relacionar. A pureza nos trás de volta o olhar que a pornografia roubou e o sentimento que não existiria se eu visse apenas bundas, pernas e peitos.

Se a pornografia também te ensinou tantas coisas, ore a Deus para que a pureza lhe reeduque. Que Ele possa suscitar em teu coração o verdadeiro sentimento, roubado pelo sexo explícito e descontrolado. Peça a Deus que a pureza e a claridade do Teu Santo Espírito possa, antes de mais nada, lhe trazer de nova a condição original: imagem e semelhança de Deus. Que Ele lhe traga primeiramente o dom de amar: amar a pureza

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Que tal um desafio?


A castidade – que não é simples continência, mas afirmação decidida de uma vontade enamorada – é uma virtude que mantém a juventude do amor, em qualquer estado de vida. Existe uma castidade dos que sentem despertar em si o desenvolvimento da puberdade, uma castidade dos que se preparam para o casamento, uma castidade daqueles a quem Deus chama ao celibato, uma castidade dos que foram escolhidos por Deus para viverem no matrimônio.

Então, essa tão falada castidade é vivida em todos os estados de vida, em todas as épocas. Mas do que se trata? Gosto da definição de castidade, que ouvi certa vez, 'a castidade é uma força que protege o amor contra o egoísmo e a agressividade e o conduz a plena realização'.

Mas, e o amor? Você o conhece? Não se pode proteger o que não se conhece. Não dá pra viver algo que não sabemos o que é... É preciso conhecer o amor, é preciso experimentá-lo, saber o que ele é, se deixar envolver por ele. Só assim poderemos protegê-lo e conduzi-lo à plenitude... Descobri na minha história que a castidade é levar o amor as últimas consequências. É a minha inteira doação ao outro e a Deus. Porque vivendo a castidade, protegendo o amor, eu conduzo o meu par ao céu... Pois não há castidade longe do coração de Deus.

Depois de tentar entender a complexidade e beleza dessa palavra, precisamos colocá-la em prática. Como? Tantas perguntas! Basta lançar-se ao Primeiro Dom. Lançar-se ao amor daquele que te chama de amigo, que te convida a estar com Ele no céu, sem os pés fincados em Deus, jamais seremos capazes de vencer essa batalha.

Vejo alguns amigos vivendo a castidade por viver, sem entender a amplitude e riqueza. Vivem como algo proibitivo. Não! Não entenda assim! Veja a profundidade, compreenda que é desejo do coração de Deus, que é sonho dEle. Querer viver a castidade sem ter conhecido o Primeiro Amor, o Amor total, não faz sentido, vive-se apenas uma abstinência sem motivo.

Entenda  'a castidade comporta uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda suas paixões e obtém a paz ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz.' (Catecismo da Igreja Católica 2339). A sexualidade é boa, foi Deus quem a criou. O problema é a falta de equilíbrio em nós, é o pecado que a distorce.

São Tomás de Aquino diz que Deus uniu às diversas funções da vida humana um prazer, uma satisfação, esse prazer e essa satisfação são, portanto, bons. Mas se o homem, invertendo a ordem das coisas, procura essa emoção como valor último, desprezando o bem e o fim a que deve estar ligada e ordenada, perverte-a e desnaturaliza-a, convertendo-a em pecado ou em ocasião de pecado.

Hoje te convido a dar sentido a vivencia da castidade. A transformá-la de fardo a beleza. Que sua luta seja por ter um coração totalmente apaixonado por Jesus e assim a consequência será sua pureza e castidade, pois amor com amor se paga! Sejamos castos e fortes, para não cairmos na tentação de acreditar no que o mundo prega. Só o amor a Jesus Crucificado por nós poderá ser um forte motivo para ser casto e andar na contra mão do mundo.

Como nosso amado São João Paulo II repetia: 'A juventude não foi feita para o prazer, mas para o desafio.'


Topa o desafio?

sábado, 6 de junho de 2015

Sobre o corpo...


“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?” 
O que é o corpo?
Existem várias formas de responder esta pergunta e sem fazer muito esforço encontraremos diversas respostas, das mais simples às mais complexas e daí surge uma outra pergunta: Como vemos e lidamos com o nosso corpo?
É através do corpo que temos nossos primeiros aprendizados e nele se encerram uma série de cuidados. Se o considerarmos como um  elemento básico de uma série de disputas, das quais não nos damos conta, poderemos concluir que é uma representação física de uma complexa concatenação de fatores diversos, de forma que estamos implicados numa rede de convenções e imputados a uma série de comportamentos convencionados, para dar a este "corpo" um lugar comum a todos com os quais convivemos.

Mas à luz da palavra de Deus, no versículo supracitado, gostaria de trazer à tona o "corpo enquanto templo do Espírito Santo", pois não há como pensar em Teologia do Corpo, sem entender o lugar do corpo nessa lógica. Muitos tomam este trecho da carta de São Paulo aos Coríntios, como um fardo, um motivo de exagerada preocupação, pois atentam-se apenas ao templo e acabam ficando como este: inertes, estáticos, presos às suas bases que, em muitas ocasiões, acabam por privá-los de viver a dinamicidade do Espirito Santo que habita em seus corações. Param num dualismo que respondem anseios rasos, vontades rasas diante de um Deus imenso que nos amou desde a nossa concepção.

Pensar o corpo como templo do Espírito Santo é transpor os limites do templo, é reconhecer o amor de Deus em nosso corpo, de forma que o próprio Espírito nele habita, logo, partindo dessa premissa, podemos concluir que Ele está em nós desde o momento em que acordamos até a hora em que vamos dormir, fato que é uma dádiva antes de ser um fardo e como tal deve ser encarado.

"Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo."


Glorificar a Deus no corpo não se trata apenas de tomar cuidado para não pecar, antes disso é enxergar-se precioso desde todo sempre, é perceber que nos mais simples gestos somos chamados a viver a coerência de filhos criados à imagem e semelhança do Amor. O cuidado com o próprio corpo perpassa esta noção, pois desta forma estamos também glorificando a Deus e a partir daí podemos estender esta lógica à forma como nos relacionamos com os outros (mas isso vai ficar para um próximo post, prometo!). E para finalizar, gostaria de ressaltar que independente de sua história de vida, do que você viveu até este momento, entenda que o Amor te amou antes de todas as coisas e fez de ti uma "lanterna" onde brilha a luz do Espírito Santo. Cada dia é um convite a viver a novidade dEste que habita em ti e nas coisas mais simples vivenciar o maior amor que você pode experimentar na sua vida. E aí, você quer?


Higor Pontes

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O dom da vida e do amor




''Marido e mulher obtêm, por meio do casamento (matrimônio), o privilégio da mais estreita cooperação humana com Deus e seu poder criador. Depois de nossa criação e redenção, essa cota da criação de uma nova vida humana é o nosso mais precioso dom. Um ato de amor que ocorre no tempo exerce um efeito por toda a eternidade, ao gerar um novo ser, detentor de uma lama imortal e cujo destino é viver eternamente junto a Deus. A união sexual amorosa torna-se um eco da própria Santíssima Trindade em que o Espírito Santo é gerado pelo amor correspondido do Pai e do Filho.

(...) um compromisso pelo qual não mais serão duas, mas uma só vida. Vida e amor unem-se agora inextricavelmente, o amor incorruptível e fecundo do casal a refletir a união amorosa entre Cristo e a Igreja.

Amor que se aborrece do sacrifício não é verdadeiro amor. O sacrifício ou sofrimento aceitos com alegria em prol do amado ou da amada esta no coração do mistério do amor.

O Papa João Paulo II logo após sua eleição publicou a Redemptor Hominis, na qual afirma: ” O homem não pode viver sem amor. Permanece ele um ser que é incompreensível para si mesmo, sua vida não tem sentido se o amor não lhe é revelado, se não encontra o amor, se não o experimenta e o torna seu, se não o participa intimamente”.

Uma criança aprende a amar sendo amada, e é na família que tem a primeira experiência de amor. Aos poucos vai descobrindo o que significa o amor, até o ponto de descobrir que ali estava esse sentimento, antes mesmo que ele tivesse consciência. Desamparada, a criança chegou ao mundo, e tanto o corpo quanto a personalidade alcançaram a maturidade somente ao receber o alimento de que necessitavam.''



Trecho extraído do livro: O dom da vida e do amor, Dr. John Billings